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Sem título.


Onze horas. O senhor e a senhora Strapetti ainda tinha coisas para arrumar, tirar e colocar na mala, a mesma rotina estressante de qualquer um que pretende viajar. O desejo de passar essa semana junto do Arthur, seu único filho, que havia se distanciado depois de começar a faculdade na capital, se mudando para a mesma por questões óbvias, como o mercado de trabalho e a aventura de morar sozinho. O garoto começava a vida, recém formado, trabalhava como administrador de uma empresa em São Paulo capital. Saídas à noite e voltas pela manha faziam parte de seus dias de folga. Quando a notícia da viagem para Fernando de Noronha chegou a seu conhecimento, não pode conter sua felicidade, e já começou a se informar com amigos e conhecidos sobre as festas e bares do lugar. Iria viajar com seus pais, mas acreditava que não se importariam, afinal ele já se considerava adulto o suficiente para poder sair.
Na semana anterior a viagem Arthur pediu a folga de uma semana, mesmo querendo ficar mais tempo longe do trabalho, mal sabia ele que eu realizaria sua vontade, mas provavelmente não do jeito que ele esperava. Na noite anterior a viagem, seus pais ligaram para ele lembrando-o do horário que iriam se encontrar no aeroporto e que ele deveria deixar sua mala pronta, para evitar estresse, e claro, pegar passaporte, identidade e todos os documentos que se precisa para viajar. Arthur ouviu tudo que eles tinham a dizer e disse que já havia feito. Mentira, óbvio. Conversaram sobre assuntos banais, e desligaram. Arthur pensou em arrumar a mala, mas lembrou que iria passar um filme ótimo na televisão, que ele não queria perder. Programou seu despertador para a manha seguinte e olhou seu filme, pegando no sono na metade.
Dia da viagem. Os pais de Arthur vão para a rodoviária e pegam seu ônibus para o aeroporto cedo, preparados para a viagem de uma hora e meia até lá. Arthur acorda sem lembrar porque estava no sofá, viu a televisão ligada e lembrou-se do filme e se perguntou como tinha sido o final. Olhou para o relógio, saltou do sofá em direção ao seu quarto, pegou a primeira mala que achou e jogou suas roupas lá dentro. Chamou um taxi e se foi para o aeroporto. Chegou alguns minutos antes de seus pais, então foi para o lugar em que tinham marcado de se encontrar para esperar por eles.
Check-in feito, malas despachadas, revistas/livros/palavra cruzadas compradas e todos devidamente alimentados, a família Strapetti se dirigiu ao portão de embarque para aguardar seu vôo. Não esperaram por muito tempo, e foram para o avião. Sentaram em seus assentos, e aguardaram o avião decolar, e eu estava ali ao lado, sem ninguém me notar.
Chegaram finalmente em Fernando de Noronha. O dia estava lindo, o lugar era lindo. Foram para o hotel largar as malas no quarto, enquanto seus pais falavam com a recepcionista, Arthur já começou a se informar sobre a programação da noite. E soube que teria uma festa para ir, uma das grandes, e eu apenas observando.
Passou o dia com seus pais, sendo o filho querido e prestativo, indo com eles a todos os pontos turísticos e lojas que ficavam perto do hotel. Falou para eles que iria se encontrar com um amigo na festa que teria a noite, seus pais ficaram um pouco apreensivos em concordar com a idéia, mas sabiam que não havia muito que fazer, afinal ele já era responsável por seus atos. Os três jantaram no melhor restaurante de Fernando de Noronha, e Arthur já começou a beber por ali, mas moderadamente, levando em consideração que estava na presença de seus pais, os quais deixaram claro que estavam muito felizes por terem este tempo para compartilhar com ele, e que era muito importante para eles saberem que seu filho estava se dando bem na vida, logo de início, indo pelo rumo certo. Depois de muita conversa e alguns drinks bebidos por Arthur, os três foram de taxi para o hotel, e Arthur disse para os pais que os amava, e que não deveriam esperar por ele pela manha, como era de costume dele fazer antes de sair para as festas maiores, para "aliviar sua barra" por voltar depois do sol nascer e completamente bêbado.
Um pouco preocupados o senhor e a senhora Strapetti foram para seu quarto dormir. Enquanto isso, Arthur já estava chegando ao local da festa, socializando com o primeiro grupo que tinha bebida em mãos que viu. As horas foram passando, e Arthur foi bebendo, se divertindo, dançando, paquerando as garotas, e bebendo mais um pouco. Antes das três horas da manha já estava fora de si, achando graça excessiva de tudo e falando coisas sem sentido, não que qualquer um do lugar estivesse em um estado melhor que o dele. Uma hora alguém do grupo que ele havia se enturmado teve a idéia de levá-lo para a beira da praia, Arthur, em um momento de lucidez, não gostou muito da idéia, disse que estava sem carro e que achava muito longe para ir caminhando, mas então ofereceram um buggy e a desculpa dele havia se acabado. Foram em um grupo de quatro pessoas para o estacionamento e então para a praia, mas então Arthur começou a se sentir mal e pediu para ir para casa. Pensou em chamar um taxi, mas perguntou se não poderia usar o buggy, meio a contra gosto, o grupo deixou.
O pequeno grupo se dispersou e ele ficou ali sozinho ao lado do carro. Entrou e ficou ali sentado por uns bons minutos, e se sentiu bem o bastante para ir para casa. E eu sentei ao lado dele. Até a metade do caminho estava tudo bem, mas decidi que já era hora de fazer meu trabalho. Me aproximei aos poucos dele, fazendo com que ele sentisse um calafrio. E toquei meus lábios gélidos delicadamente em sua boca e suguei toda sua jovem vida regada a álcool, fazendo com que ele caísse sem vida por cima da direção e perdesse o controle, e o carro bateu em um poste em uma curva qualquer. Sai do carro e fui andando para o meu caminho, com um pouco de pena por ter tirado a vida dele, e até abalada por arruinar as férias do senhor e da senhora Strapetti, mas certa de que esqueceria isso logo. Ah, esqueci de me apresentar. Não direi meu nome, ninguém há de saber, mas me conhecem como Morte.
•••
Sim, eu ainda estou viva. Muito tempo sem aparecer, como já se pode perceber. Tentarei agora nas férias colocar a imaginação a trabalhar e preparar novos posts. Não prometo regularidade por motivos óbvios, como não conseguir cumprir. Mas vou tentar aparecer mais seguido por aqui. O texto não tem título porque não pensei em nenhum bom o suficiente, então preferi deixar assim, para não estragar.

Brincadeira de garota

Quase tudo pronto, quase todos aqui. Uma quase igreja com um quase padre. É. Minha mãe vai gostar, é do jeito que ela sempre quis. Quase.
- Te acalma Alissa, está tudo pronto, tudo perfeito. Agora vá lá se arrumar menina.
- Mas como... Está bem, você também trate de se arrumar, não quero que minha mãe te veja assim. Desculpe, mas você sabe...
- Sim eu sei, estou indo me arrumar. Anda logo.
Não consigo parar de pensar na reação dela, quer dizer... Não foi exatamente isso que ela esperou pra mim, sonhou comigo minha infância inteira. Mas também eu não faria nada diferente. Não quero perde-la um só momento de vista, não consigo me imaginar longe dela, muito menos com outro alguém.
- Desculpa te atrapalhar querida...
- Papai! Entre, quero sua ajuda. Como está mamãe? Aliás, onde ela está?
- Claro que te ajudo minha princesa... Veja só como está linda! Sua mãe está... Vindo.
- Obrigada papai... Espera um pouco, como assim vindo?
- Ela... Acho melhor você ir lá fora conversar com ela.
- Ah, então ela está aqui, ainda bem.
- Vá lá minha filha.
O vestido, o véu, minha maquiagem, a decoração. Tudo inspirado no casamento dela, tudo para agradar a ela. O que será que ela quer aqui fora? Porque não entrou? Porque não está com um vestido de festa?
- Mamãe, por que a senhora não entra? Tenho tanto para te mostrar, o vestido, a decoração, o bolo... Tudo, a senhora vai amar este casamento.
- Aham.
- O que a senhora tem?
- Nada não querida, quero apenas ficar aqui fora, está tão boa a temperatura.
- Mamãe vamos entrar, tenho que me aprontar. Ah, e a senhora não vai acreditar, consegui alguém para celebrar o casamento, não é um padre, mas é quase como se fosse.
- Claro que sim.
- Está bem, o que está te incomodando?
- Isso não é uma igreja, não haverá padre algum.
- O que mais está lhe incomodando?
- Isso não é um casamento, e você não é uma noiva querida. São apenas duas menininhas brincando de noivas. Não há igreja que aceite este casamento. Deus não aceita essa relação, nunca vai aceitar. Isso é um pecado. Sempre fui contra, desde que você me falou do namoro, mas até deixei pensando que era uma fase sua. Mas não é. Você vai estragar sua vida com um casamento que não existe.
- O que mais te incomoda, o fato de eu querer me casar com uma garota ou eu estar me casando com o amor da minha vida aos dezoito anos?
- Quer saber, nem responda mãe, apenas vá embora, você também papai, se você ficar eu vou começar a chorar, e você também, e então vou me sentir pior ainda.
Por favor, que eu acorde e que tudo isso não tenha passado de um pesadelo idiota, e que agora o Mike me acorde.
- O que está acontecendo aqui? Alissa você está bem? Porque não está pronta? Porque você está chorando?
- Olá Mike, não vai mais ter casamento algum, cancele tudo. Agora. Mande todos embora, pra um hotel, pra qualquer lugar, mas suma com tudo da minha frente. Não quero mais saber de casamento algum.
- Se acalme Alli, vai ficar tudo bem.
- Não, não vai ficar nada bem. Minha mãe não aceita meu casamento, foi embora e meu pai também. Não terei meus pais no casamento, não terei meu pai para entrar comigo. Não terei minha mãe para entregar meu buquê.
Passos de sapatos italianos antigos. A única pessoa que usa este tipo de sapato é o meu pai. Mas isso não é possível, ele acabou de ir embora.
- Você tem seu pai para entrar sim com você.
- Papai? O que o senhor está fazendo aqui? Não tinha acabado de ir embora com a mamãe?
- Eu sempre quis entrar com minha filha no casamento dela, e é exatamente isso que vou fazer. Sua mãe que fique no carro se não quiser participar do mais belo casamento.

Hospital of souls

O tempo não queria passar e meus olhos não queriam se abrir, porém o apitar constante das maquinas ao meu redor me lembrava da minha localização. A agulha enfiada em meu braço estava começando a me deixar agoniada, mas quem disse que isso ia mudar qualquer coisa? Tanto eu, quanto as enfermeiras, sabíamos que ela teria de continuar lá, até as faxineiras sabiam disso, mesmo que eu implorasse pra elas. Se bem, se eu conseguisse falar qualquer coisa já seria um grande avanço, levando em conta que nem abrir os olhos eu conseguia.
Depois de apagar por não sei quanto tempo, me levantei com muita facilidade, e me sentei na cama. Arranquei a maldita agulha do meu braço e olhei em volta: vi todos os fios da maquina que estavam conectados a mim, fazendo com que ela apitasse constantemente. Pensei por um instante e os arranquei, afinal, se eu já conseguia sentar sozinha e sem nenhum grande esforço eu deveria já estar bem. Coloquei meus pés no chão frio, e levantei da cama. Olhei para os lados, fechei os olhos e tentei escutar algum movimento das enfermeiras do lado de fora do quarto. Nada. Estranho, geralmente hospitais ficam movimentados a todo tempo… Abri a porta, e fiquei cega por um instante com a claridade que vinha do lado de fora. Fui abrindo os olhos aos poucos, até me acostumar com a luz excessiva. Continuava tudo vazio.
O corredor era maior do que parecia quando me carregaram pro quarto. O elevador parecia longe demais, e tudo parecia mais frio. Pensando bem, quando se está vestindo a camisola hospitalar, até no dia mais quente de todos você irá ficar com frio, é incrível. Cheguei à frente do elevador, mas ele passou direto pelo meu andar, me esqueci de apertar o botão. Esperei o que pareceu ser uma eternidade, não que eu tivesse algum compromisso além de vagar pelos corredores do hospital, aparentemente vazio. Olhando por esse ângulo, a ideia não parece ser uma das melhores, mas algo me impedia de ir até meu quarto novamente.
O elevador chegou, apertei em um botão qualquer, e acabei parando no andar onde tinham as salas de cirurgia, e minha curiosidade mórbida me fez ir em frente. As salas pareciam todas vazias, com exceção de uma, no fim do fim do corredor. Porque tudo tinha que ser tão distante por aqui? Com passos pequenos cheguei lá, entrei na porta ao lado, que dava para a galeria daquela sala. Certifiquei-me que estava vazia e entrei, ficando ao fundo, para evitar que me vissem, mesmo que fosse o menos provável, já que aparentavam estar absortos nas complicações com a cirurgia. Fiquei me centrando nos movimentos do médico, no que ele deixava de fazer, e imaginando o que ele estava falando, com isso olhei para o braço do paciente e vi uma pulseira amarela em seu pulso, que devia significar que precisava de cirurgia urgente. E ao lado uma mesa com as pulseiras de outras cores. Tinha visto em algum lugar o significado delas, mas só algumas eu conseguia me lembrar, azul significava que a cirurgia havia corrido bem, amarela que o paciente precisava de cirurgia urgente, e preta que estava morto. Por acaso olhei atentamente para o paciente, que por sinal havia se acidentado muito, devia ser mais um motoqueiro idiota, pelo jeito dos ferimentos, e porque a maioria dos acidentes de moto se parecem com esse. Pois é, quando se é viciada em séries médicas você acaba aprendendo alguma coisa.
Então descobri que era o meu irmão o motoqueiro idiota. Com isso vieram flashes na minha cabeça de nossa tarde. De mim convencendo ele a pegar as motos do papai e apostarmos uma corrida em uma estrada que conheço. Só havia um capacete, e ele havia dado para mim, porém eu o deixara em casa, alegando que se ele não usasse, eu também não usaria. Se fosse pra um morrer com o acidente que os dois morressem. Depois, me veio a imagem turva de muito vidro, sangue e tumulto a nossa volta. E dor, muita dor. Pois é, eu não deveria ter brincado com isso.
Quando me livrei das imagens olhei para a sala e o médico havia abaixado o bisturi. Parei de me importar com que me vissem ou não, corri para fora da galeria e entrei na sala de cirurgia, perguntando como estava meu irmão, qual era seu estado. Ninguém parecia me ouvir, e a enfermeira se dirigia a mesa com as pulseiras, só pude pensar comigo mesma “Por favor, não pegue a preta, qualquer uma menos a preta.” E, obviamente, a pulseira pega foi a preta. Perdi completamente as forças e cai no chão em lágrimas, me xingando de tudo por ter convencido ele a fazer o que eu queria. Ninguém naquela sala parecia notar minha presença, cada um fazia o que tinha que fazer, e eu chorando ali no meio da sala.
Uma mão tocou meu ombro, e demorei um tempo para identificar quem era, já que meus olhos estavam cheios de lágrimas, deixando minha visão quase impossível. Mas reconheceria aquele sorriso em qualquer lugar. Era o sorriso do meu irmão. Ainda no chão disse:
-O que? Acabei de ver o médico anunciando sua morte, como você está de pé aqui do meu lado?
-Levante maninha, tem coisas que você simplesmente não entende, venha, vamos sair daqui.
-Ok.
Me levantei e segui ele para fora da sala, sem entender absolutamente nada.
-Me desculpe por ter te obrigado a competir comigo esta tarde, foi uma idéia estúpida, sei disso.
- Você sabe que não é capaz de me obrigar a nada. Eu competi com você porque quis, porque foi divertido.
- Divertido? Nós quase morremos com aquilo.
Quando me dei por mim, estávamos no elevador. Estranho como agora tinha chegado até ele tão rápido.
- Você esta errada.
- Sobre o que?
- Pense bem. O que acabou de ver a enfermeira fazer comigo?
- Botar uma pulseira preta em você… Mas ela deve estar louca, afinal você está vivo, está aqui conversando comigo agora.
- E como você sabe que estou vivo?
- Porque eu estou! Como poderíamos estar conversando se você também não estivesse vivo?
-Tem certeza?
E com isso ele pegou meu braço e levantou a manga que escondia minha pulseira, revelando sua cor.
Alguma hora eu vou voltar. Eu sei disso, vocês também sabem, se é que ainda existe alguém que passa por aqui, depois de ter sido entregue as traças, com promessas de volta não cumpridas. De qualquer jeito, mudei o link, o nome, o layout. Acho que amanha publico um texto. Se a inspiração me visitar.
Boa noite pra vocês, já passou da meia noite, eu já deveria estar na cama, mas estou aqui.

Poderia parar de me iludir.



Poderíamos casar você uma vez me disse. Iríamos nos mudar para Londres, decoraríamos nosso apartamento do jeito que quiséssemos, discordaríamos quanto à cor das cortinas, não arrumaríamos a cama diariamente, a geladeira seria repleta de congelados e coca-cola, o armário, de qualquer coisa comestível. Teríamos um enorme piano de cauda em nossa sala, onde eu tocaria diversas melodias para você, e você me encantaria com seu violão. Não teríamos um despertador apenas, por motivos óbvios. Aos sábados sentaríamos na sala de pijama e pantufas e olharíamos televisão juntos, sairíamos pra jantar todas as noites, após tentativas frustradas de cozinharmos, você pegaria no sono com a mão na minha e eu, encostada em seu peito ouvindo sua respiração. Todos esses já foram nossos planos, mas agora não sei mais o que não passaram de palavras suas para me iludir, e com quantas você já não repetiu essa história. Infelizmente enquanto você só inventava as histórias, eu realmente pensava na possibilidade, e me apaixonava cada vez mais por você. 

When u r not ok

Quando perguntam se você está bem e você diz que sim, mesmo que seus olhos e sua voz demonstrem o contrário, é para ver se aquela pessoa irá entender que não, você não está bem, e lhe abraçar e perguntar o que aconteceu, mesmo que você não queira falar sobre. Já que isso é mostrar que se importa, é mostrar que você está lá mesmo sem saber como agir, é estar presente não só nos bons momentos, mas naqueles incompreensíveis também.



Novamente sem revisão, mais um rascunho feito em um caderno qualquer nos momentos de insônia. Em breve reativarei o blog e postarei contos, crônicas, etc melhores.